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Meu desejo é ser tocado

Instalação interativa - 2016-2017. Matheus Montanari

A instalação consiste em um colchão no chão, um tablet apoiado sobre ele e, sobre a cama, uma projeção. No Tablet, roda um aplicativo, a princípio uma tela preta com a frase: "Meu desejo é ser tocado".  Se o visitante tocar na tela do tablet, é gerada uma montagem de imagens de aplicativos de namoro e pinturas renascentistas de Adão e Eva.

 

Acompanhando a montagem, o som de uma voz mecânica e impessoal declama confissões de desejos recolhidas anonimamente no ciberespaço. No momento em que o visitante interrompe o toque físico, a voz cala e a tela preta com a frase inicial volta, aguardando o próximo contato.

Adão e Eva no paraíso reconheceram e sucumbiram ao desejo do fruto proibido. No momento em que comeram, perceberam que estavam nus e sentiram vergonha de seus corpos, cobrindo-os. Desde então, temos um longo histórico de censura cultural ao corpo, explícito nos conteúdos visuais ao longo da história da arte, até mesmo na representação desse acontecimento bíblico. Além disso, o que podemos relacionar da história à nossa contemporaneidade é a questão da censura de desejos.

Hoje temos uma maneira diferente de explorar algumas dessas relações. Nosso contato diário com computadores nos possibilita interações censuradas, usuários anônimos com acesso a quase tudo e a todos. Nos aplicativos de relacionamento, há uma nova relação de censura. Não é mais a genitália que está escondida, mas os rostos. Sem eles, os usuários se sentem seguros e mais dispostos a explorar seus desejos anteriormente censurados. A tecnologia de representação mudou, da pintura para a fotografia digital, mas a censura do corpo na tela permanece.

Os aplicativos de relacionamento são extremamente populares, principalmente entre a comunidade LGBT+ brasileira que, vivendo em um dos países mais LGBT+fóbicos do mundo, busca formas de desenvolver relacionamentos e preservar a sua segurança. Com o distanciamento permitido pelo anonimato, o usuário se sente mais seguro para explorar aspectos de si que muitas vezes são censurados na vida social, porém, os aplicativos acabam deixando os usuários privados de uma experiência pela qual almejam: o toque.


Nesse sentido, a instalação propõe uma interação onde o indivíduo precisa sentar ou deitar na cama para alcançar o tablet conectado à tomada. A cama é um ambiente de contato íntimo, consigo mesmo e com o outro, além disso, é um local muito utilizado pelos usuários para a troca de mensagens e fotos. Os visitantes interagem com as palavras ditas por outros, que não conhecem, mas que naquele momento, compartilham uma conexão, ao ter revelado seus desejos anonimamente.

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