Inventário (deserto/inundação)
IA, impressão digital. 2023-2024
Obra criada a partir dos desenvolvimentos cocriativos do projeto Desierto/Inundación do grupo holosci[u]dad[e], plataforma ibero-americana de pesquisa em arte e tecnologia.
Composição: Lilian Amaral, Marcos Umpièrrez, Bia Santos, Liliana Fracasso, Marina Buj Corral, Laurita Ricardo de Salles, Mirian Celeste Martins, Suzete Venturelli, Brenda Marques Pena, Luis López Casero, José Prieto, Vega Ruiz, Paula Carolei, Daniel Toso, Matheus Montanari, Ivan David, Carina Flexor, Fernando Palacios, Luisa Fernanda Giraldo Murillo, Karla Brunet, Ricardo Dal Farra.
Este trabalho explora IA, mudanças climáticas e cocriação, invertendo os papéis de artista e máquina. Ao classificar imagens geradas por IA em torno de temas como "deserto" e "inundação", criam-se mapas visuais e topologias de dados. O projeto destaca a colaboração, a consciência ambiental e novas formas de autoria artística.

Este projeto surge de uma série mais ampla de experimentos na intersecção entre inteligência artificial, temas ambientais e autoria artística. Desafiando o paradigma tradicional em que as máquinas são ferramentas e os artistas são os únicos criadores, a peça inverte essa relação: a IA assume o papel de criadora de imagens, enquanto o artista adota a posição de classificador e curador. Enraizado em temas como água, mudanças climáticas e crise ecológica, o projeto oferece uma reflexão instigante sobre como agentes humanos e não humanos podem colaborar na criação de imagens e significados.
O trabalho teve origem em uma oficina participativa, onde imagens geradas por IA foram produzidas em resposta a estímulos ambientais. Esses visuais se tornaram a matéria-prima para um processo artístico único. Em vez de criar diretamente novas imagens, o artista desenvolveu um inventário estruturado que categorizou as imagens geradas por IA em grupos temáticos. Foi dada atenção especial às categorias contrastantes de "deserto" e "inundação", dois temas-chave que simbolizam os extremos da crise climática. Esses grupos temáticos formaram um mapa visual dinâmico, onde as imagens foram agrupadas com base em similaridades formais e conexões conceituais.
Ao focar no ato de classificação, o artista destacou o potencial criativo da organização, curadoria e interpretação. Os espaços entre esses conjuntos de imagens — representando lacunas conceituais ou estéticas — não foram deixados vazios. Em vez disso, a IA foi convidada a retornar ao processo para gerar imagens intermediárias que preenchessem essas lacunas, produzindo percursos visuais especulativos. Essa interação contínua entre humanos e máquinas permitiu o surgimento de novas interpretações e associações dentro do conjunto de dados, abrindo novas possibilidades para a navegação por temas ecológicos.
Mais do que uma exposição estática de imagens, o projeto serve como registro de um sistema evolutivo de cocriação entre humanos e IA. Investiga criticamente o aprendizado de máquina, não apenas em sua dimensão estética, mas também para o discurso ambiental, e o pensamento colaborativo. Ao inverter as fronteiras entre ferramenta e criador, o projeto reflete sobre questões mais amplas de agência, autoria e nossa relação com a tecnologia em tempos de crise planetária.
A peça é uma meditação sobre o clima, a criatividade e o futuro da criação artística, convidando o público a considerar como podemos navegar pela incerteza ecológica por meio de novas formas de colaboração digital e construção visual.