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Ecologias do Pensamento

Laboratório de Antropologia Multimídia. (UCL-MAL) + Escola de Botânica (SP) + Universidade de São Paulo + Universidade Federal de Santa Catarina + Slade School of Fine Arts

Apoiado pelo UCL Global Engagement Fund

Nhandesy Neuza Alziro, Nhandesy Ivone, Nhandesy Fausta Solano Mendosa e Nhandesy Roselí Aquino.

Nhanderu Tadeu Romeiro Freita, Nhanderu Valdomiro Oswaldo Aquino.

Matheus Montanari, Raffaella Fryer-Moreira, Fabiana Assis Fernandes, Patrick White

Valdineia Aquino, Scott Hill, Luan Iturve, Germano Alziro, Jaqueline Gonçalves,  Gerard Oliver, Adriana Boloc, Stephanie Ferraz, Clara Ciqueira, Luiza Braga, Karola Braga, Anderson Santos, Caetano Sordi.

O projeto ecologias do pensamento estabeleceu uma parceria internacional e multidisciplinar com as comunidades indígenas Guarani e Kaiowá para investigar o pensamento ecológico a partir da relação entre o som e as plantas. O projeto propôs diálogos entre diferentes tipos e concepções de tecnologia, desde cantos e cultivos tradicionais até o uso de microcontroladores e análise de dados.

Desenvolvemos duas estratégias experimentais. O primeiro focou na criação de mundos de realidade virtual que, por meio de processos de arte generativa, exploraram a cosmologia Guarani e Kaiowá em seu aspecto cosmotécnico. Usando sons e elementos tradicionais como o Chiru, o cajado sagrado que sustenta o mundo, e o milho branco, o alimento que sustenta a vida, buscamos investigar temas fundamentais da cosmologia por meio da experiência, e não da representação narrativa.
   

A arte generativa pode ser definida em diferentes graus de complexidade, está associada a um sistema que possui algum grau de autonomia, em que o artista e o sistema exercem uma série de operações que resultam na obra final. Buscando formas de se relacionar com as mitologias Guarani e Kaiowá, respeitando suas características, as metodologias de arte generativa pareciam não apenas se adequar às qualidades ontológicas da cosmologia, mas também privilegiar uma investigação e produção audiovisual que pudesse manter uma fidelidade cosmotécnica. Pois ambas, a cosmologia Guarani e Kaiowá e a arte generativa, são processos emergentes, não lineares, com elementos repetitivos que estão em constante transformação. 

A segunda estratégia foi o uso de microcontroladores para transformar plantas da cultura alimentar Guarani e Kaiowá em sensores táteis, para que ao serem acionados emitissem um som. Neste experimento utilizamos milho, batata e mandioca, com sons de instrumentos tradicionais, o mimby (apito), o taquapu (bambu) e o mbaraka (chocalho). Com isso, pudemos traçar linhas entre plantas e sons, aprofundar conversas sobre essas relações ecológicas extra-humanas e entender melhor como podemos nos envolver e apresentar esse tipo de conhecimento.

De forma mais ampla, este projeto busca superar a noção romântica e colonial de preservação, que não considera a presença indígena uma presença digital, capaz de agir e pensar sobre processos técnicos desde sua concepção. Isso significa, além de uma representação ilustrativa do que se acredita ser o patrimônio cultural material e imaterial da comunidade, construir colaborativamente um território digital indígena, um tekoha digital Guarani e Kaiowá onde se estabelece uma nova ontologia tecnológica, de forma que a própria concepção da tecnologia contemporânea seja afetada pela cosmotécnica indígena.

A colaboração, a interdisciplinaridade e a investigação dos processos criativos - mais do que a proposição de representações - permitem chegar a questões relacionadas ao nível da existência, para que, na era antropocênica da ausência de futuro, possamos compor uma cosmotécnica para uma realidade viável, virtual e atual, baseada em uma poética do cuidado e das relações mais que humanas.

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