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Era verão, mas não fazia sol em Shangri Lá

Arte em vídeo - AI 2022

Neste trabalho, o clima se torna um dos agentes artísticos, traçando linhas entre a utópica cidade literária no alto do Tibete, a praia brasileira no litoral do Rio Grande do Sul e as montanhas do Parque Yosemite no Estados Unidos. Operamos tensionando a relação entre o natural e o artificial. Em meio a grãos de areia e grãos de ruído pixelizado, utilizamos redes generativas adversas cíclicas (cycle GANs) para construir um conjunto imagético onírico em busca do sol de Shangri Lá.


As redes de inteligência artificial utilizadas no projeto são treinadas com imagens de diferentes estações do ano no mesmo local, no Parque Yosemite. A partir desse conjunto de dados, elas competem entre si para alterar artificialmente qualquer imagem com estações do ano opostas, até que uma convença a outra da naturalidade de sua artificialização. Sem referências das estações de um clima subtropical do hemisfério sul, o algoritmo se perde, criando paisagens surrealistas de dunas de neve, e mares de nuvens.

O modelo foi desenvolvido com base em imagens do Parque Yosemite, nos Estados Unidos da América. O algoritmo utilizado é treinado com um conjunto de 853 imagens do parque no verão e 1273 imagens no inverno. A partir deste conjunto, traduz qualquer imagem de entrada para a estação oposta do ano. Com isso, as definições de inverno e verão, apesar de sua globalidade e diversidade, são estabelecidas com base nas características do local.


    O parque é frequentemente visitado por alpinistas profissionais e amadores que se aventuram em escaladas, registrando os percursos em fotos, vídeos e postagens em blogs. Um renomado alpinista da região, Brutus of Wyde afirma ter encontrado Shangri Lá em uma de suas expedições. Brutus descreveu e até fez alguns desenhos do belo lugar da High Sierra, mas manteve em segredo sua localização.


    A história de Shangri Lá, no entanto, é mais  antiga. Foi criada originalmente em 1933 por James Hilton em seu romance Horizonte Perdido. É um lugar imaginário e montanhoso, supostamente na região do Tibete, onde os habitantes nunca envelhecem, desde que nunca saiam de lá, oscilando entre um paraíso e uma prisão. O sucesso literário inspirou a fundação de diversos locais, como o município litorâneo de Xangri Lá.


    Confrontamos o algoritmo treinado com as referências de Yosemite, apresentando imagens da praia de Xangri Lá em um dia nublado de verão. Sem referências para dunas de areia, o algoritmo as transforma em montanhas cobertas de neve. Isso cria a paisagem utópica de uma praia nevada subtropical. Sem saber, o sistema replica as estações do hemisfério norte no hemisfério sul, criando cenas oníricas em busca do sol de Shangri Lá.

   Assim, fazemos uma crítica a homogenia da produção tecnológica pelo norte global, e seu uso indiscriminado ao redor do mundo, que não leva em conta as características biotecnodiversas de cada local.

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